terça-feira, 2 de setembro de 2008

Voltar para casa

02/09/2008 - 18:02
O Circulo se Fecha!
“O Circulo se Fecha”

Voltar pra casa eh sempre um alivio. Digo isso a cada 3 semanas e chamo Nova York de casa (e sempre foi), assim como chamo Londres de “casa” assim como chamarei, logo – logo, um assento numa canoa fugindo de um furacao de “casa”. (Alias, obrigado supervisor de vôo da JAL pela troca de assentos na ultima hora). Pra vocês que voam de TAM e não sabem o que eh cortesia, experimentem voar JAL (não, isso não eh jabá, pago full fare em business, mas agradeço gentileza e ataco os rudes, os brutamontes do ar quando merecem ser atacados.

Olhando fotos dos retirantes de Louisianna, esses seres que escaparam do Gustav e que escaparão de vários outros desastres naturais e artificiais como guerras, insurgências, minha mente atravessa vários emails não respondidos aqui no computer e a geladeira sobrecarregada de produtos orgânicos da WholeFoods…mas por que digo isso? A sim, ainda me fixo no artigo dos Caretas. Cidades caretas, cidades JOVENS, dominadas por jovens e com JOVENS saindo pelos poros da imaginação!

Esqueçam os autores MORTOS

ESTAMOS VIVOS

Não custa esquecer um pouco, por um tempo (digo, um respiro) os CRASSICOS! Estão nos levando a Ground Zero!

Esquece! Esquece! Passei minha vida inteira tentando comparar culturas, tentando explicar uma cultura pra outra, tentando explicar pros meus tios que no Rio não tem elefante andando na rua. E riam. Tento, ate hoje, dizer que em NY se anda tranquilamente as 4 da madrugada sem se olhar pra trás de MEDO e….riem!

O circulo se fecha!

Guerras entre críticos e músicos e artistas de palco ou de telas penduradas em museus.

Tudo muito triste mas, a verdade eh que o circulo se fecha e o mundo responde via Blogs.

Saudades imensas de pessoas como João Candido de Galvão. Meio pe na merda, meio pe na imprensa. Mas sabia das coisas. Era relacionado a Oswald de Andrade, não sei bem como.

A ultima vez em que nos vimos foi no aeroporto Charles De Gaulle (acho). Me contou que havia sido assaltado na Ipiranga com São João. Já estava bem fraco do coração. Nos nos amávamos. Era um amante da obra de Robert (Bob) Wilson e falava dele com paixão. Paixão que poucos possuem quando falam de arte hoje.

Porque a arte hoje não eh discutida com paixão mesmo quando se discute o iluminismo ou, digamos os impressionistas? Estranho. Não sinto paixão por Jackson Pollock. Tenho um amor frio por ele. Ta certo. Mas tenho uma paixão FORTISSIMA pela obra de Duchamp e pela obra de Steinberg e a de Francis Bacon e Vik Muniz (que encontrei ontem vindo pra ca).

Digo, morro de paixão por Pina Bausch e João Candido sabia corresponder essa paixão quando fez a critica de “Quatro vezes Beckett” – em 1985 – no teatro dos 4 no Rio. Também soube meter o pau em “Carmem Com Filtro”, obra ruim, que construí pro Fagundes em Sampa em 86. Mas fiquei quieto.

Tem artista que esperneia ate hoje: sim, mandei a Bárbara Heliodora morrer. Mas isso eh um capitulo a parte: ela queria que eu morresse, que meu teatro morresse e atacaou a Nanda. Eu simplesmente fechei o ciclo. Anos depois, digo, hoje, outro circulo se abriu. Dona Bárbara e eu nos damos bem. Ela gosta ou desgosta de alguma obra minha mas ela da de DEZ a ZERO em Ben Brantley ou no Christopher Isherwood, ambos do New York Times (nova velha geração) os pré-pretensiosios que chegaram ha alguns anos quando Frank Rich e Mel Gussow sairam.

Ah, a critica. Não vivemos com ela. Não vivemos sem ela.

O que dizer de tantos novos atores e atrizes de hoje? Não se pode mais MASTIGAR em publico, digo, mastigar mesmo, (boca entreaberta ou não), como num desses FREVINHOS da vida (restaurante na Oscar Freire que deveria ensinar aos russos e polononeses como se fazer um bom strogonoff). “Ai que nojo Gerald!” Zé Celso esta de parabéns por ter RESISTIDO a caretice dos tempos. Te admiro Zé, e vc nem sabe o quanto!

“NOJO?”

Artista de teatro sente nojo?

Caramba. Eu não sabia disso, com 30 anos ou mais de teatro, se levando em conta Verbenas de Seda.

“Um pe na merda e outro outro na lama”, dizia Grotowski. Frase inesquecível pra uma cultura inesquecível. Sim, cheguei em casa. E, ao ler o Times, leio as paginas de cultura que ha anos não saem do mesmo tema: parecem ate terem entrado no próprio labririnto metaliguistico da mesmice e da loucura: ELSINOR!

Palavras palavras palavras

Fecharam o circulo.

So da peca de Shakespeare ou peca de Beckett.

Parece ate que Hamlet fará o Krapp’s Last Tape. Haja um Quantum Leap pra tantum, digo pra tanto.

Não podemos ficar falando ou repetindo e repetindo momentos da cultura do passado! Não podemos. TEMOS que FALAR pra FRENTE, custe o que custar.

Aqui na parede, enquanto eu escrevo, de vez em quando eu levanto os olhos e dou de cara com fotos num painel avacalhado: Beckett e eu, Julian Beck e eu, eu espremido entre Haroldo e Augusto de Campos. Deus do Céu! Quase toquei nas mãos de Joyce. Eu disse quase.

Estou fechando o meu circulo

Custe o que custar!